O que nunca peca
O homem espiritual
“Aquele que é nascido de Deus não peca habitualmente; porque a semente de Deus permanece nele; não pode continuar no pecado, porque é nascido de Deus.” I Jo 3;9
Eis um texto que, às vezes, acaba complicado por mero erro de perspectiva. Atrevo-me a pensar que o “habitualmente” foi acrescido, para “atenuar” a pretensão de João. Afinal, quem não peca?
Não há nada que precise ser atenuado no escrito do apóstolo. “Aquele que é nascido de Deus, não peca.”
No início da minha jornada pelo “Caminho Estreito” esse texto deu um nó, nos dois neurônios.
Diziam-me que eu tinha nascido de Deus. Entretanto, eu pecava mais do que obedecia. Como lidar com tal situação?
O risco de “facilitarmos” as coisas quando não entendemos é temerário. Melhor seria assumir nossas insipiências. Como disse agostinho: “Lendo A Bíblia, encontrei muitos erros, todos, em mim.”
Embora o texto “suavizado” diga: “Não pode continuar pecando” há traduções que ousam mais: “Não pode pecar”. A mais cristalina das verdades.
Talvez, a suspeita de que eu esteja inchado de santarrice já tenha assoprado brasas na alma de quem lê. Entretanto, uma vez esclarecidas as coisas, elas ficarão claras. Como diria o filósofo Tiririca.
A dupla natureza continua a incidir mesmo sobre os que nasceram de novo. “… os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem do varão, mas de Deus.” Jo 1;13
Sempre que pecamos, e o fazemos muito, infelizmente, não é o nascido de Deus que está patrocinando nossas escolhas. Cada convertido tem em si, uma rebelde infiltrada que se mostra avessa a qualquer submissão; a carne. “Porque a inclinação da carne é morte; mas a inclinação do Espírito, vida e paz. Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à Sua lei, nem pode ser.” Rom 8;6 e 7
Paulo menciona certa “gravidez psicológica” onde, algo no íntimo desejava agir segundo Deus, porém, sem forças para fazê-lo; O homem espiritual alienado do Criador precisava ser regenerado para poder agir como livre; “Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na Lei de Deus; mas vejo nos meus membros outra lei guerreando contra a lei do meu entendimento, me levando cativo à lei do pecado, que está nos meus membros.” Rom 7;22 e 23
Aquele que, por absoluta identificação com Deus não peca, nem deseja fazê-lo, no não convertido queda impotente; sua alienação do Criador é sua “morte”. Intenta o bem e faz o mal, precisa nascer de novo para ser capacitado. “De boas intenções, o inferno está cheio.”
No caso de alguém que nasceu de novo e foi possibilitado, em Cristo, a atuar como filho de Deus, reside uma dualidade disputando sua alma. De um lado, a carne com sua rebeldia inconsequente, desejando seus maus hábitos costumeiros. De outro, o homem espiritual, nascido de Deus, laborando para persuadir à obediência. Quem seguir suas diretrizes, pois, não peca.
“Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne mas, segundo o espírito. Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte. Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse, não é dele.” Rom 8;1, 2 e 9
De certa forma todos somos duplos, os cristãos; digo, possuímos dupla natureza. “O que é nascido da carne é carne, o que é nascido do Espírito é espírito.” Jo 3;6
Sempre que nosso homem espiritual estiver na direção das nossas escolhas, não pecaremos; “Aquele que é nascido de Deus não peca.” Porém, cada vez que a carne vencer o pleito pela nossa submissão, teremos dez chances em dez, de fazer tudo errado. “Não sabeis que daquele a quem vos apresentais como servos para obedecer, sois servos desse mesmo a quem obedeceis, seja do pecado para a morte, ou da obediência para a justiça?” Rom 6;16
Se João acreditasse, deveras, que os convertidos estão plenamente dedetizados e não pecam mais, não teria ensinado as providências necessárias para quando pecarmos, como ele o fez. “Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis; mas, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo. Ele é a propiciação pelos nossos pecados; não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo.” I Jo 2;1 e 2
Embora difícil a prática, simples a teoria de como não pecar. “… no tempo que ainda vos resta na carne não continueis a viver para as concupiscências dos homens, mas para a vontade de Deus.” I Ped 4;2
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